Resumo
A sepse é uma condição clínica complexa, caracterizada por disfunção orgânica potencialmente fatal, decorrente de uma resposta imunológica desregulada à infecção. Reconhecida como uma das principais causas de morbimortalidade hospitalar, a sepse apresenta elevada prevalência e impacto significativo nos sistemas de saúde. A fisiopatologia da síndrome envolve uma resposta inflamatória exacerbada, mediada por padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) e receptores imunológicos inatos, como os Toll-like receptors (TLRs). Essa interação inicial desencadeia uma cascata inflamatória sistêmica, com liberação de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α), disfunção endotelial e hipoperfusão tecidual, culminando em complicações como choque séptico e falência de múltiplos órgãos. O manejo da sepse fundamenta-se no diagnóstico precoce e na intervenção imediata, conforme preconizado pelas diretrizes internacionais, como a Surviving Sepsis Campaign. Ferramentas como os escores SOFA e qSOFA desempenham papéis complementares na identificação e estratificação de risco em diferentes cenários clínicos. O escore SOFA, amplamente validado, avalia a disfunção de seis sistemas orgânicos principais, permitindo monitorar a progressão da doença. Por sua vez, o qSOFA, de aplicação simplificada, é útil em ambientes de baixa complexidade, embora apresente sensibilidade limitada na detecção precoce da sepse. As intervenções iniciais incluem a ressuscitação volêmica agressiva, com administração de cristaloides em volume inicial de 30 mL/kg, e o início precoce de antimicrobianos de amplo espectro, idealmente nas primeiras horas após o diagnóstico. A coleta de culturas microbiológicas antes do início da antibioticoterapia é essencial para guiar o ajuste terapêutico. Em casos de hipotensão persistente, o uso de vasopressores, como a noradrenalina, é indicado para restaurar a perfusão tecidual e estabilizar os parâmetros hemodinâmicos. O tratamento é dinâmico e requer monitoramento contínuo de parâmetros clínicos e laboratoriais, como lactato sérico e pressão arterial média. Medidas adicionais incluem o controle da fonte infecciosa, manejo de complicações como hiperglicemia e disfunção orgânica, e intervenções coadjuvantes, como o uso criterioso de corticosteroides em casos de choque refratário. A implementação de protocolos baseados em evidências e o ajuste personalizado das intervenções são fundamentais para otimizar o prognóstico e reduzir a mortalidade associada à sepse.
Referências
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